Fofoca eletrônica, um mal | por Antônio Dirceu Pinheiro

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Se antes do advento da internet, as campanhas políticas utilizavam o boca a boca para disseminar notícias falsas para prejudicar o opositor, hoje esse recurso ganhou a contribuição das redes sociais para a propagação das denominadas fake news. O que antes ficava em pequeno círculo, agora ganha proporções gigantescas e provoca uma avalanche de mentiras que têm como consequência o acirramento das discussões entre amigos e familiares, chegando a vias de fato, em alguns casos.

O estudioso da comunicação, o italiano Umberto Eco, morto no ano passado, disse em uma das suas últimas análises, que “as mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade”. Há de se concordar que, ao mesmo tempo em que promoveu a democratização da comunicação, a internet, por outro lado, banalizou a comunicação. A liberdade de expressão é um pilar importantíssimo da democracia, mas, ao lado de toda liberdade deve estar presente a responsabilidade. Não há como invocar o direito à liberdade de expressão para se manifestar ferindo pessoas.

A enxurrada de notícias falsas propagadas pelas redes sociais, com cada um defendendo seus interesses, tem disseminado a ideia de que todo mundo pode produzir conteúdo da forma que bem quiser escondido por trás de um aparente anonimato. Certamente quem faz isso imagina que por estar na nuvem a informação estará tão distante que não poderá ser descoberta. Aí é que se enganam. A internet não é terra sem lei.

Quem é da área da comunicação sabe que o princípio básico do jornalismo é a verdade e é a ela que se deve obediência cega, em respeito ao leitor, ouvinte ou telespectador. Cabe à imprensa o papel de buscar a verdade e nem sempre essa verdade agrada setores da sociedade que veem seus interesses contrariados. Na atualidade há uma onda difamatória contra a imprensa no País toda vez que uma notícia é divulgada contrariando algum setor. Não acredito que colegas utilizem de mentiras para alcançar sucesso na profissão.

Com essa revolução tecnológica, o profissional jornalista enfrenta atualmente a concorrência de um batalhão de pessoas que se intitulam jornalistas e produzem suas verdades. Um celular com câmera e acesso à internet é o bastante para uma pessoa ‘produzir’ conteúdo.

Isso não seria problema se todos usassem essa fantástica tecnologia com responsabilidade. Para contrapor a essa onda de divulgação em massa, os grandes jornais criaram mecanismos para desmentir, diariamente, informações que são postadas na internet utilizando até layouts dos próprios jornais para difundir as notícias falsas. E quem não quiser fazer algo errado, ao receber esse tipo de informação, deve estancar a sangria não repassando o que recebe. Ir à fonte para saber a veracidade do fato é outra boa atitude.

A guerra virtual que se trava no dia a dia tem feito estragos entre amigos e familiares. É preciso repensar essa ação para não dar vazão a sentimentos de destruição de laços mais importantes que interesses obscuros.

Antônio Dirceu Pinheiro é jornalista, radialista e professor universitário. E-mail: adirceup@hotmail.com

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