Governo de Goiás decreta Ano Cultural em homenagem a Cora Coralina

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Pouca coisa mudou naquele casarão de esquina à beira do Rio Vermelho, na pacata cidade de Goiás, desde que Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas partiu. Os móveis, objetos e roupas ainda ocupam os cômodos como se Cora Coralina estivesse por perto. Na terça-feira (20/8), a poetisa faria 130 anos de idade. Em sua homenagem, o governador Ronaldo Caiado assina decreto que institui 20 de agosto de 2019 a 20 de agosto de 2020 como o Ano Cultural Cora Coralina.

Inédita, a iniciativa tem como objetivo voltar as atenções para aquela que é uma das maiores e mais talentosas artistas da história de Goiás. A assinatura do decreto será no Museu Casa de Cora Coralina, local onde a poetisa esteve a maior parte da vida, ora escrevendo versos, ora fazendo doces. “Cora Coralina é um nome reconhecido no Brasil e até no exterior e motivo de orgulho para nós. Precisamos celebrar seu nome e homenageá-la sempre que possível”, ressaltou o governador.

Durante o Ano Cora Coralina, o governo estadual planeja promover uma variedade de eventos em homenagem à escritora, desde saraus literários, oficinas e concursos de redação até exibições audiovisuais e exposições. “Queremos levar a proposta para a sociedade civil organizada e para entidades e instituições parceiras. Nossa intenção é que o Estado de Goiás como um todo abrace essa justa homenagem a um dos principais nomes de nossa cultura”, explicou Edival Lourenço, titular da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

Parte da agenda é organizada pela Secult, mas a proposta é ampliar o ano festivo para outras esferas, como o turismo. Nesse caso, a determinação de Caiado é melhorar o Caminho de Cora, um roteiro de ecoturismo que chegou a ser inaugurado no ano passado com carências na infraestrutura. Ao longo de 300 quilômetros, o percurso que leva o nome da poetisa passa por Corumbá de Goiás, Pirenópolis, Itaberaí, Jaraguá e cidade de Goiás.

Presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral já trabalha nas melhorias do roteiro. Segundo ele, o local precisa e vai receber investimentos em “infraestrutura, sinalização, qualificação das pessoas que vão oferecer o atendimento e uma boa promoção para o mercado nacional e internacional”. Também são estudadas alternativas para reforçar a segurança dos visitantes e o acesso à internet.

O presidente da agência disse ainda que busca parcerias com o governo federal para realizar as interferências necessárias. Estão previstas construções de mirantes nas serras, em Jaraguá, Pirenópolis, e Goiás – os locais do trajeto mais bonitos de contemplação. Tudo será realizado com base em dados do Observatório do Turismo. A partir dos levantamentos, explicou Fabrício, é possível saber a quantidade de pessoas que percorrem o trajeto, de onde elas são, quanto gastam e o que precisam.

A Goiás Turismo estima que em um ano seja concluída a primeira etapa das melhorias, com a construção de pontes, totens, mirantes, implantação de sinalização, além da autorização de empréstimo via Caixa Econômica Federal e criação do cronograma de eventos. Após as 48 semanas planejadas, será anunciada a segunda etapa. O projeto contará também com recursos vindos de emendas parlamentares de deputados federais. Somado a isso, deverá contar ainda com R$ 1,5 milhão do Ministério do Turismo.

Na semana em que realizou a transferência simbólica do Estado para a antiga Vila Boa, em celebração aos 293 anos da cidade, Caiado visitou um trecho do percurso do Caminho de Cora, no final de julho. “Queremos dar oportunidade para que o turista que transite pelo Caminho possa conhecer ou pelo menos tentar reviver aquilo que tivemos aqui anos atrás”, disse, referindo-se às ruínas do arraial Ouro Fino.

Programação – 130 anos de Cora

As festividades pelo que seriam os 130 anos da poetisa teve ponto alto nesta terça-feira (20/8), com o lançamento do Ano Cultural Cora Coralina. No entanto, já neste fim de semana começou a primeira homenagem. Pelo menos 40 cavaleiros participaram da Cavalgada do Caminho de Cora Coralina. Partiram na madrugada de sábado (17/8) de São Francisco de Goiás e percorrem os 150 quilômetros até a antiga Vila Boa. A chegada foi nesta terça-feira, dia 20.

Lembrando a época dos tropeiros, os participantes serão recebidos pelos fazendeiros da região, que vão oferecer as refeições e pousos durante o trajeto de quatro dias pelo Cerrado goiano. As paradas estão programadas em Jaraguá, Itaguari, Itaberaí, Calcilândia e Ouro Fino.

Antes de chegar à cidade de Goiás, se concentram na fazenda onde está a cruz de Chico Mineiro. No local, violeiros liderados pelo músico goiano Almir Pessoa, vão homenagear o peão com a música da dupla Tonico e Tinoco. Eles ainda participam de solenidade nas ruínas do Arraial de Ouro Fino e seguem para o almoço no antigo Arraial do Ferreiro, com a participação do presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral. A Cavalgada segue até o Museu de Cora Coralina, na cidade de Goiás.

A programação ainda inclui uma missa, no Santuário da Nossa Senhora do Rosário, partilha de bolo e uma serenata com a participação de Marcelo Barra e outros cantores goianos.

Sobre a poetisa

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida como Cora Coralina, nasceu na cidade de Goiás, antiga Villa Boa, no dia 20 de agosto de 1889, na Casa Velha da Ponte, às margens do Rio Vermelho, casa que hoje abriga um museu que conserva a memória da escritora. Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador, nomeado por Dom Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, uma dona de casa, Cora cursou apenas até a terceira série do curso primário.

O pseudônimo Cora Coralina, que assinou as obras da escritora, foi escolhido porque na cidade de Goiás havia muitas “Anas”, em homenagem à padroeira local, Sant´ Ana. E Cora não queria ser mais uma “Ana”. Ela explicava que “Cora” vem de coração e “Coralina” significa a cor vermelha, Cora Coralina seria coração vermelho, daí surgiu o nome “Cora Coralina”.

Cora foi uma mulher além do seu tempo. Apaixonada pela literatura, começou a escrever seus primeiros versos aos 14 anos, textos que mais tarde foram publicados em jornais de Goiânia e de outras cidades. Ela viveu muitos anos fora da cidade de Goiás. O primeiro livro veio em 1965, intitulado Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, lançado já na terceira idade, aos 76 anos. Seus textos falam da vida simples e compõem uma extensa obra ainda não completamente divulgada. Cadernos originais e inéditos, alguns escritos a lápis, estão com a única filha viva da autora, que mora em São Paulo. Já outra grande parte do material, incluindo relíquias da escritora, está na sua cidade natal.

O gosto pela culinária também foi referência na vida da poetisa que se tornou doceira, ofício com o qual ganhava a vida, inspirando outras tantas mulheres. Entre os anos de 1965 a 1979, Aninha começou a fabricar doces e a comercializá-los. Os sabores variavam entre laranja, figo, mamão, goiaba, banana, entre outros, que encantavam o paladar de quem provava. Muitas das frutas vinham do pomar da Casa da Ponte. Pessoas de várias partes do país visitavam a casa de Cora para comprar suas guloseimas e também, ouvi-la declamar poesias, contar casos.

Embora tenha tido uma vida de lutas e obstáculos, Cora venceu. O reconhecimento da escritora veio a partir de 1975, quando finalmente ela começou a receber a merecida fama no Brasil e no exterior, com participações em eventos literários, entrevistas e solenidades em Goiás e muitas outras cidades no país. Também foi agraciada com diversas premiações e títulos de honraria, além de homenagens memoráveis, até mesmo internacionais. Cora foi tema da 15ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), em 2013, ilustrando todo o material gráfico do festival, foi agraciada na 34ª edição do tradicional Festival de Cinema sobre Arte e Biografias de Asolo, no Nordeste da Itália, em 2015, tema da Casa Cor, em 2017, e reverenciada pela plataforma digital Google, também em 2017.

Em sua biografia somam-se o lançamento do segundo livro, Meu Livro de Cordel, em 1976, uma segunda edição de Poemas dos becos de Goiás, no ano de 1978, Vintém de cobre – meias confissões de Aninha, em 1984; Estórias da Casa Velha da Ponte e o livro infantil Os meninos verdes, em 1985. Cora Coralina faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985, aos 95 anos, deixando um grande legado artístico.

Secom – Governo de Goiás

 

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