Medicamentos vencidos: ‘herança’ da Saúde
FERNANDA MORAIS
Luvas, seringas, anticoncepcionais, antiácidos como a Ranitidina, canetas para aplicação de insulina em diabéticos, espátulas para exames ginecológicos, máscaras cirúrgicas, remédios para hipertensão e kits de sorologia para testagem de HIV. Esses são alguns itens com data de validade vencida que estão armazenados, dentro de caixas, no almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), na Cidade Jardim, em Anápolis.
O prefeito Roberto Naves (PTB) fez uma vistoria do local na manhã de terça-feira (24). Ao lado da secretária municipal de Saúde, Luzia Cordeiro, e dos vereadores Jakson Charles (PSB), Thaís Souza (PSL) e Elinner Rosa (PMDB), ele confirmou o que já tinha sido levantado pela imprensa local – que havia medicamentos vencidos no estoque da Semusa –, lamentou a perda que faz falta à rede pública e comunicou que será preciso gastar dinheiro para incineração dos produtos vencidos.
Durante a vistoria do prefeito foi informado outro problema: o galpão onde os remédios estão armazenados não tem ventilação adequada, tem infiltrações e mofo. “É lamentável isso que estamos constatando aqui hoje. Esse volume de remédios pode ser ainda maior. Estamos buscando mais medicamentos vencidos que estão armazenados nas unidades de saúde da cidade”, disse Roberto Naves.
O prefeito não soube quantificar qual o prejuízo para os cofres públicos. “Pior ainda é saber que os pacientes, usuários do SUS, reclamam da falta de medicamentos, enquanto temos que providenciar o descarte dessa quantidade alta de remédios vencidos”, frisou.
O prefeito disse que vai investir na informatização do sistema de armazenamento e distribuição dos remédios na Semusa. Segundo ele, não dá para jogar dinheiro público fora em época de crise. “Até agora, todo esse controle de entrada e saída de medicamentos era feito manualmente, mas sabemos que o Ministério da Saúde oferece um software, de graça, para que os municípios façam essa gestão, especificando todos os detalhes, o remédio, a data de validade, o lote da distribuição. E é com esse mecanismo que vamos trabalhar de agora para frente”, explicou Roberto.
O gerente de Epidemiologia da Semusa, José Fonseca, disse que para levantar o valor exato do prejuízo será preciso passar um “pente fino” em todo o material vencido. Ele acredita que os gestores da Saúde da administração passada, do ex-prefeito João Gomes, possivelmente tinham conhecimento do vencimento dos medicamentos. “No processo de compras pode ter acontecido algum equívoco na mensuração, provocando esse vencimento precoce de todos esses remédios”, comentou José Fonseca, informando que a Ranitidina, por exemplo, estava em falta em algumas unidades de saúde. “Faltou planejamento”, frisou.
José Fonseca disse que nesses primeiros dias da nova administração foi designada uma equipe para fazer uma triagem da data de validade dos medicamentos estocados. Os lotes que estão com datas de vencimento próximas foram disponibilizados para o banco de troca da Regional Pirineus. “Esse banco serve como um sistema de permuta com outros municípios. Eles nos fornecem o que estamos precisando e nós fazemos o mesmo com eles para evitar o desperdício. Recebemos na última semana um lote de remédios que estávamos precisando na rede. Remédios esses que vieram desse banco de trocas”, explicou o gerente.
Informatização
A secretária municipal de Saúde, Luzia Cordeiro, disse que a Prefeitura de Anápolis já entrou em contato com o Ministério da Saúde para implantar o Hórus, sistema nacional de gestão da assistência farmacêutica, de acesso on-line. O software permite o controle e distribuição de medicamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitando o registro dos medicamentos que o paciente utiliza. “Esse mecanismo facilita o gerenciamento eletrônico do estoque e verifica as datas de validade, por exemplo, evitando esse desperdício”, falou Luzia, que prometeu “organizar a situação” em 90 dias.
Ex-secretário questiona exposição do problema
LUANA CAVALCANTE
O ex-secretário Saúde de Anápolis Luiz Carlos Teixeira (foto) questionou a maneira como a atual administração apresentou os remédios e materiais cirúrgicos com data de validade vencida, que estão estocados na Central de Medicamentos da Semusa.
“Porque não foi feito esse levantamento no dia 1º de janeiro? Tivemos dois meses de transição [novembro e dezembro], somente agora, depois de quase um mês que a gestão assumiu, isso aparece”, disse Luiz Carlos por telefone ao JE Online na tarde dessa terça-feira (24).
O prefeito Roberto Naves (PTB), esteve no local acompanhado da secretária municipal de Saúde, Luzia Cordeiro, e dos vereadores Jakson Charles (PSB), Elinner Rosa (PMDB) e Thaís Souza (PSL). Naves informou à imprensa que parte do material será incinerada e que haverá prejuízos financeiros para a prefeitura.
O ex-secretário disse que o vencimento de medicamentos não é algo recorrente na rede municipal de Anápolis. Como justificativa, ele afirmou que há três anos não há incineração de material da Semusa por esse motivo. Segundo Luiz Carlos, os itens encontrados no depósito são distribuídos pelo Ministério da Saúde de acordo com o número de habitantes da cidade. “São anticoncepcionais, testes de HIV, entre outros que não podemos obrigar a população a levar esses produtos. E claro que não queremos que sobre”, lamentou.
Como os remédios eram distribuídos pelo Ministério da Saúde, Luiz Carlos ressaltou que é impossível trocar com os outros municípios porque todos também recebem os mesmos medicamentos.
Sobre as compras de remédios para a rede municipal de Saúde, o ex-secretário explicou que eram feitas com a participação de uma equipe formada por todos os farmacêuticos e diretores das unidades de saúde. Segundo ele não havia um quantitativo exato do que era necessário, mas sim números aproximados do consumo mensal. Outra equipe acompanhava a distribuição e fazia todo o controle da saída desses medicamentos.
Durante o período de transição, o ex-secretário conta ainda que o almoxarifado e todas as estruturas da Semusa estavam à disposição da equipe que assumiria, e que a atual gestão poderia tê-lo procurado para os “devidos esclarecimentos”.
O ex-secretário Luiz Carlos Teixeira disse que todo ano a Central de Medicamentos da Secretaria Municipal de Saúde recebia a visita da Vigilância Sanitária e que tudo que o órgão pediu, como a instalação de ar-condicionado, foi feito.
Em relação à infiltração nas paredes da Central de Medicamentos, Luiz Carlos Teixeira falou que as fortes chuvas dos últimos dias podem ter causado algum dano. “Pode ter acontecido algo do dia primeiro para cá. Se eles acham que não está de acordo, eles podem fazer [a reforma]”, disse.