Saudade do Sócrates | por Marcos Vieira

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Saudade do Sócrates. Jogava muita bola e tinha opinião. Em uma época dura para o Brasil, com generais no poder, o jogador colocou a cara para bater, se posicionou a favor do movimento das Diretas Já e defendeu a democracia em um ambiente tradicionalmente alienado, que é o futebol.

Imagine o Sócrates no vestiário do São Paulo nessa última semana? O Magrão lá, ouvindo os companheiros do zagueiro Rodrigo Caio criticarem – mesmo que de forma velada – o tal gesto de fair play, que livrou de maneira justa o atacante Jô, do Corinthians, de uma suspensão pelo terceiro cartão amarelo.

Porque não se trata apenas de futebol, mas sim de um bom exemplo em um momento que a opinião pública vê o país afundar cada vez mais na lama da corrupção gerada a partir das delações de executivos da Odebrecht.

Quando precisamos de fato de bons exemplos das figuras públicas, aparecem uns idiotas condenando o colega por agir decentemente, de não mentir e, talvez o mais importante, de não permanecer inerte enquanto outro leva a culpa pelo o que não fez.

Realmente está tudo errado, pois o simples fato do fair play do jogador são-paulino virar “um caso” a ser debatido por aí, já mostra o quanto chegamos ao fundo do poço. O gesto de Rodrigo Caio deveria ser algo comum ao ponto de passar despercebido.

O São Paulo, talvez, deveria repreender publicamente os atletas que se pronunciaram contra o comportamento leal de Rodrigo Caio. Apenas para colocar as coisas nos lugares, dizendo simplesmente que a vitória a todo custo não tem graça nenhuma.

É claro que boleiro nunca foi um bom exemplo de defesa do nosso povo. Pelé se limitou a dedicar o milésimo gol às criançinhas sofridas. Ronaldo não pestanejou em se aliar à CBF quando viu que isso era bom para os seus negócios. Outros ficaram calados. Neymar não deve nem saber quem preside o Brasil, já que vive a realidade dos milhões, no esquema funk-mulheres-vídeo-game.

Óbvio que todos têm direito de não se envolver, de limitar o patriotismo à defesa da seleção brasileira. Mas que ao menos não atrapalhem, não deem maus exemplos em campo. Rolar no gramado com a mão no rosto, acusando o adversário de ter lhe dado um soco, quando isso não aconteceu, é certamente o gesto mais patético de um jogador. Limitado intelectualmente, o sujeito se esquece das dezenas de câmeras de televisão que provam em segundos que sua atitude é uma farsa. E torcedor algum aguenta tamanha cretinice.

Sócrates errou muito, tanto no particular quanto em sua carreira de atleta e médico. Morreu cedo porque bebia demais. Mas não se pode acusá-lo de omissão. Marcou posição em todos os momentos e pagou um preço alto por isso. Virou um ídolo. E esses jogadores defensores da malandragem, alguém sabe os nomes?

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