Centro em Joanápolis conserva tradições caipiras

CTC (10)

ANA CLARA ITAGIBA

Engana-se quem pensa que a tradição caipira ficou no passado. Há 17 km de Anápolis, no distrito de Joanápolis (Capelinha), costumes do homem do campo se mantêm mais vivos do que nunca, entre os seus aproximadamente 1 mil habitantes. Folias, grupos de catira e rodas de viola fazem parte do cotidiano de muitos moradores da região. Tanto é que há oito anos foi criado o Centro de Tradições Caipiras de Joanápolis (CTC), para servir como ponto de encontro das pessoas.

O local foi idealizado e montado pelo historiador Arnaldo Salu, que se mudou para Joanápolis em 2007. Arnaldo conta que se encantou pelas tradições que eram mantidas por seus novos vizinhos, mesmo diante de um mundo completamente diferente. “Quando conheci as folias, me encantei. Ofereci um pouso na minha casa. Uma coisa que me chamou a atenção, é que nas catiras que aconteciam durante essas festas, os jovens não dançavam. Eu os questionei e eles me mostram que sabiam sim”, conta.

Naquela época, um antigo morador, violeiro e cantor, conhecido pelos vizinhos como Zé Tomaza, ensaiou um grupo de mulheres durante meses para os festejos em homenagem a Nossa Senhora dos Anjos. “Estávamos a esta altura, publicando um informativo da comunidade, onde por brincadeira escrevi que Joanápolis tinha já um grupo de catira. Vieram convites para apresentação e o que era brincadeira ficou sério”. Com quatro meses de existência, o grupo foi parar em Uberaba no Festival Nacional da Catira, onde se destacaram entre os demais.

“A partir de então, comecei a ler e então compreendi o que o lugar tinha de diferente. A cultura caipira aqui não era uma herança cultural como de todo em Goiás. Aqui ela é viva, cotidiana e pulsante”. Diante disso, Arnaldo resolveu criar um espaço que pudesse ser ponto e encontro para os moradores continuarem preservando essa cultura. Dois anos depois, em 2009, CTC foi criado. “Não era uma associação, não era um comércio, era só um lugar para nos reunirmos, tocar moda de viola, dançar catira e prosear”, lembra.

Na época, alguns moradores ajudaram nas despesas do local, mas havia a necessidade de buscar uma representação legal. Então, ao invés de criar uma nova instituição, o Conselho para Desenvolvimento de Joanápolis e Região (CDJ), resolveu apoiar a ideia e o Centro passou a funcionar com um projeto do CDJ. Durante alguns anos, tiveram o apoio da Prefeitura de Anápolis, alguns projetos foram aprovados em editais públicos e a partir daí o local foi crescendo. “Adquirimos alguns equipamentos, reformamos nossa sede própria, onde temos uma biblioteca, um pequeno museu rural e um espaço para eventos razoavelmente equipado com cozinha e banheiros, onde oferecemos pousos às Folias, treinamos os catireiros – mais de 60 jovens já passaram pelo grupo –, fazemos forrós, rodas de violas, torneios de truco, reuniões, festas comunitárias, treinamentos, sessões de cinema, entre muitas outras atividades”, conta o fundador, que posta todas as fotos em uma página do CTC na internet.

Reunir os moradores de locais é o principal foco do Centro, mas às vezes, pessoas de outras regiões de Anápolis vão ao local. “Quando fazemos um forró, por exemplo, não fazemos divulgação, mas as pessoas que ficam sabendo ou são convidadas, são bem vindas. No grupo de catira, muitos jovens do Jardim Primavera e do Filostro já participaram. Nos torneios de trucos organizados pelo CDJ, sempre tem duplas de Anápolis”.

De acordo com o fundador, o maior desafio atualmente tem sido superar o preconceito das pessoas que pensam que ser caipira é sinônimo de atraso, de ignorância ou pobreza, quando na verdade caipira é um jeito de ser, uma identidade cultural. “Ser caipira é chic, está na moda. Mas, independente disso, funciona assim: gosto das coisas do mundo caipira, me sinto caipira, digo: Sou Caipira! O segundo desafio é manter-se caipira com tanta alternativa que a modernidade oferece”, explica Arnaldo.

Rugby
Mas, não é só de tradições caipiras que o CTC é feito. Há pouco tempo, foi criado um time de Rugby, proposto pelo atual presidente, Raphael Rizzo, e muitos jovens concordaram em participar. Hoje, muitos jovens jogam pelo Capela Rugby e chegam até a participar de campeonatos em outras cidades. “Raphael é um entusiasta do Rugby. Ele sempre diz que a filosofia própria do esporte é cultuar valores e princípios éticos e morais que fortalecem o jovem em seu desejo de desenvolvimento pessoal, afastando-os, desta forma, de riscos e tentações mundanas”, diz o fundador do CTC ao afirmar que qualquer iniciativa nesse sentido deve ser apoiada.

Ciclistas
No próximo domingo, dia 8 de outubro, a partir das 8h, acontecerá a ação social “Faça uma criança sorrir”, no CTC. O encontro será promovido pelo grupo Amor em Movimento, que é composto por ciclista que farão um passeio ciclístico até o lugar. “Vemos constantemente, grupos de ciclistas que passam e eventualmente param um pouco e seguem suas trilhas. Então, eles decidiram reunir e deixar sua marca pelos lugares por onde passam”.

A programação contará com café da manhã, shows e sorteios. “Será um presente para Joanápolis e para o CDJ, pois fomos brindados com material para pintura de nossa sede. Apesar de não conhecer os responsáveis pela iniciativa, quero expressar aqui, em nome de todos, nossos agradecimentos”, ressalta Arnaldo.

Doações
O CDJ, que é mantenedor do CTC, já passou por dias melhores, como nos tempos de parceria com a Prefeitura. Só que hoje não contam com nenhum tipo de subsídio e manter a instituição, com suas burocracias, despesas, manutenções periódicas, projetos, eventos, deslocamentos, uniforme para os catireiros, entre muitas outras coisas, tem sido muito difícil.

Hoje eles precisam de patrocinadores para ajudar nas despesas e nos uniformes dos catireiros. “Temos despesas fixas mensais com a sede e anuais com tributos. O que é muito barato para empresas ou particulares que se dispuserem a colocar sua marca em nossa fachada. Participamos e fazemos eventos mensais que também podem ser patrocinados. As pessoas ficariam impressionadas ao saber do quão pouco é necessário para ajudar”. Quem quiser ajudar pode entrar em contado com o Arnaldo Salu pelo telefone (62) 99629-8936 ou com o atual presidente do CTC, Raphael Rizzo pelo (61) 99957-0974.

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