Pais e escolas têm papel primordial no combate ao bullying, lembra especialista
A morte de dois estudantes por um colega de 14 anos no dia 20 de outubro, em Goiânia, retomou debate sobre tema
ANA CLARA ITAGIBA
A morte de dois estudantes por um colega de 14 anos no dia 20 de outubro, em Goiânia, chocou todo o país. O garoto disse durante um depoimento à polícia que era vítima de bullying na escola e que havia se inspirado nos massacres de Columbine, que aconteceu em 1999, nos Estados Unidos e de Realengo em 2011, no Rio de Janeiro. O jovem, que é filho de um policial militar, usou a arma do pai para cometer o ataque. Os adolescentes João Pedro Calembo, 13 anos, e João Vítor Gomes, 14 anos, foram mortos e mais quatro colegas ficaram feridos durante o tiroteio que aconteceu dentro de uma sala de aula do Colégio Goyases.
O fato gerou bastante discussão nas redes sociais sobre como o bullying deve ser abordado entre vítima, agressor, escola e família. A reportagem do JE conversou com a psicopedagoga, Luciana Pina, na quinta-feira (26) para entender qual o papel de cada no processo de combate ao bullying.
Segundo ela, o bullying é uma relação ocorrida entre agressor e agredido, caracterizada por ofensas verbais e/ou agressões físicas de modo repetitivo e intencional. “É importante compreender que outros ambientes sociais podem ser palco dessas tristes ocorrências, como por exemplo, na vizinhança, locais de trabalho, grupos informais e até nas famílias. Um comportamento que tem intenção de ofender o outro, de modo a gerar desequilíbrio emocional ao alvo da ofensa é bullying”, esclarece.
A prática deve ser enfrentada com muita sabedoria e profissionalismo. À escola cabe o compromisso de ter um olhar atento aos comportamentos diversos apresentados pelos alunos, além de adotar medidas preventivas e eficazes. À família cabe o compromisso de ser formadora de conceitos respeitosos, onde o preconceito e a crítica ofensiva sejam inaceitáveis. E que os valores hoje tão esquecidos, sejam o prioridade na educação dos filhos. A vítima deve se encorajar e acreditar que esse mal é vencido com diálogo, com a exposição dos fatos e apoio de toda sociedade. Ao agressor cabe aceitar que precisa de ajuda, pois a prática da agressão revela uma enorme fraqueza e uma profunda dificuldade de confrontar com os inúmeros desconfortos sociais. “Somente uma ação conjunta pode combater esse mal que é o bullying e que tem sido a justificativa para tragédias que marcam negativamente a história dessa sociedade”, afirma a psicopedagoga.
A família e a escola devem observar o comportamento apresentado por suas criança e adolescentes no dia a dia. A conduta de um indivíduo que sofre bullying é típica, sendo elas: isolamento, pouca participação em situações de exposição das opiniões, choros inexplicáveis, insônia, desmotivação, queda no rendimento escolar e até mesmo agressividade.
Consequências
O bullying traz prejuízos para todos os envolvidos. Luciana explica que quando a vítima é passiva a agressão pode desenvolver sintomas de doenças psicossomáticas, assim como um trauma que possa influenciar os traços de sua personalidade, além de desequilibrar o estado emocional de modo que as atitudes recorrentes sejam extremas, trágicas e impulsivas.
Respeito
A psicopedagoga conclui dizendo que as escolas e famílias precisam ser solos férteis de amor e de respeito, de modo que a formação seja pautada nos valores que são pilares de sustentação de uma sociedade próspera e feliz.
“As pessoas precisam entender que os dois lados fazem parte de um mesmo espaço e que a harmonia, o bem estar da sociedade depende de ações mútuas. A ninguém cabe o comportamento de julgar erros ou errados. Cabe sim um compromisso amplo que vai além dos muros que nos separam, porque ‘ninguém é suficientemente bom’, precisamos aprender e ensinar que o outro é parte de mim, por isso merece respeito”, aconselha.