Morre Miguel Squeff, o “narrador titular” do futebol anapolino

MARCOS VIEIRA

O radialista Miguel Squeff, um dos principais nomes da crônica esportiva de Goiás, morreu no domingo (17.jun), aos 72 anos de idade, vítima de câncer. Ele estava internado há mais de uma semana em um hospital particular de Anápolis, devido a complicações provocadas pela doença.

Seu velório, realizado na funerária Pax Primavera, em frente ao Cemitério São Miguel, reuniu nomes do jornalismo goiano, jogadores e ex-jogadores de futebol, dirigentes de clubes, políticos e ouvintes de Squeff.

O estilo marcante de sua narração, reconhecidamente um dos mais originais do rádio brasileiro, fez com que Miguel Squeff se transformasse em um exemplo para diversos profissionais e povoasse o imaginário do torcedor, seja na arquibancada do Estádio Jonas Duarte – radinho colado na orelha – ou em casa, se emocionando a partir dos lances do jogo contados por ele através da Rádio São Francisco.

A emissora franciscana, inclusive, fez parte de grande parte da trajetória de Squeff. O seu “Titulares da São Francisco” estava há 50 anos no ar. Mas ele passou pela Carajás e Santana, já extintas, e também pela Rádio Imprensa.

No seu programa “Café com Bola” sempre terminava seus comentários desejando que as “boas coisas da vida” estivessem presentes sempre para cada um. Mais tarde, fechava o dia com o “Tocando de Primeira”.

Diante do gol, Miguel Squeff gritava o seu conhecidíssimo “tá lá dentro” e emendava: “ora não marca… marca sim!”

O radialista tinha talento de sobra para ser protagonista no eixo Rio-São Paulo, mas preferiu ficar em solo goiano. Talvez porque amava Anápolis e os amigos. Talvez porque não queria ficar longe da Anapolina, cujo sonho era vê-la campeã.

Miguel Squeff começou no rádio em 1971. No final da mesma década fundou a sua própria equipe e passou a terceirizar espaços nas rádios.

Chamado pelo jornalista Nilton Pereira, Squeff fez parte da equipe do programa “Esporte no 7”, na antiga TV Tocantins (hoje TV Anhanguera Anápolis), uma iniciativa pioneira em Goiás.

O narrador também se aventurou na vida pública – foi secretário de Esportes dos prefeitos Wolney Martins e Pedro Sahium. Ocupou a pasta também na gestão do então vice-governador Alcides Rodrigues como interventor de Anápolis.

Mesmo doente, Miguel Squeff esteve no Estádio Jonas Duarte em partidas do Campeonato Goiano deste ano.

Miguel Squeff narrou jogos de Copa do Mundo – em 1990, na Itália – rodou os estádios do Brasil acompanhando os times da cidade e manteve a disciplina, por diversas vezes estafante, de cobrir partidas toda quarta-feira e domingo. Viveu o futebol intensamente, acompanhando o que acontecia dentro das quatro linhas e fora delas, nos bastidores. Morre, portanto, um dos ícones locais, que com sua voz, através das ondas do rádio, projetava Anápolis para muito além de suas divisas.

O início

Em junho de 2010, Miguel Squeff concedeu entrevista sobre sua trajetória à Revista Planeta Água, do jornalista Odilon Alves. O JE Online reproduz a primeira resposta dada pelo radialista, falando do seu ingresso na profissão.

Como se deu seu ingresso no rádio?
Estudei no Colégio São Francisco, que realizava solenidade religiosa especial todo dia 4 de outubro, Dia de São Francisco, na Praça Santana e os padres franciscanos tinham uma rádio chamada Rádio Santana que funcionava no Colégio São Francisco.

A solenidade acontecia na Praça Santana, no centro de Anápolis, onde fiz uma apresentação de uma parte da Bíblia que foi transmitida pela rádio e minha voz agradou ao Frei José Sullivam que era o diretor da rádio. Então, ele me convidou para um teste de locução. Fiz o teste com muita empolgação e fui reprovado.

Eu tinha 18 anos e o Frei me disse que havia se enganado, que minha voz era muito aguda. Muito tímido, praticamente um roceiro, pois fui criado nos fundos da região do Córrego Catingueiro onde é hoje o Jardim das Oliveiras, enfrentei enormes barreiras para fazer o teste que ocorreu no mesmo período em que prestava o serviço militar. Eu morava no Colégio São Francisco e o Tiro de Guerra era ali perto.

Todo dia eu estava na rádio e, com uma boa noção de português e uma boa prática em datilografia, me envolvi com a rádio e acabei vencendo por teimosia.

O diretor reconheceu o meu esforço, o meu trabalho e, no final do ano, me deu uma gratificação. Fiquei tão feliz que fui correndo do Colégio São Francisco até a casa dos meus pais, no Jardim das Oliveiras, para entregar a minha mãe o meu primeiro salário como radialista. Mas não falava em microfone. Em 1965, na decisão do campeonato goiano entre Anápolis e Vila Nova, no Estádio Jonas Duarte, coincidentemente não tinha ninguém para fazer o plantão.

O narrador da equipe era o Antônio Afonso de Almeida e ninguém queria ficar de plantão. Todos queriam ver o jogo, uma decisão do campeonato que acabou sendo conquistado pelo Anápolis e este era o assunto em toda a cidade. Se o senhor quiser, eu faço o plantão, disse para o Antônio Afonso, tal era a vontade que eu tinha de falar, tal era minha paixão pelo rádio.

Fiz o plantão e ele me acionou muito pouco, mas fui bem e passei a integrar a equipe de esportes da Rádio Santana, primeiro como plantonista, depois como redator, apresentador e, mais tarde, como repórter. Depois fui contratado pela Rádio Carajá, então dirigida pelo Plínio Gonzaga Jaime e pelo Nelson Eleutério, na Barão do Rio Branco, onde permaneci até 1971 quando foi inaugurada a Rádio São Francisco. Habib Issa, Ferraz Júnior e Geraldo Arantes, então conselheiros da rádio, me convidaram para integrar a equipe da São Francisco onde me firmei como apresentador de programa e gerente comercial.

Ali comecei a trabalhar na área de vendas e, juntamente com o frei João Batista Vogel, a gente lançou a 96 FM, que foi a segunda FM do Estado de Goiás.

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