O brasileiro não entende a [crise da] economia, ou a economia não entende o brasileiro. No meu caso, não consigo entender ambos. Especialistas do mercado financeiro, semana após semana, projetam inflação mais alta para 2015. A última que vi já estava em 8,29%, maior patamar desde 2003. O PIB, coitado, caminha para retração de 1,20%, o que representaria o pior resultado em 25 anos.

O ‘economês’, entretanto, é apenas a face técnica do que a vida nos mostra no dia a dia, por exemplo, nos supermercados. Maldito tomate! E a taxa de juros. Dever cheque especial e cartão de crédito é suicídio ‘por terceiros’. Hoje mesmo, terça-feira (12), conversando com um amigo no trabalho, ouvimos um do outro a expressão que tenho ouvido repetidamente de um monte de gente: “vendendo o almoço para jantar”. Tem essa e muitas mais com o mesmo significado.

Nada disso me surpreende ou assusta. Tenho requebrado para não perder o rumo. Até aprendi algumas técnicas de sobrevivência, malabarismos que me permitem dever menos, ou fazer um rodízio de credores.

FLÁVIO MOBAROLI

A questão que me intriga é ver tanta gente na rua, lotando bares, restaurantes e boates. Tanto neguinho trocando de celular, de carro. Tanta casa sendo construída – só na minha rua são duas simultaneamente –, tanta gente viajando para o exterior (e olha que o dólar tá salgado)…

É claro que eu não tenho todos os números e que, em Anápolis, conforme pesquisa da CDL, no Dia das Mães a média dos valores dos presentes teria redução de 19%, reflexo do cenário de recessão do País. Mas não consigo enxergar isso tão claramente no cotidiano.

Não quero aqui fazer apologia ao sofrimento. Ninguém precisa ou deve amarrar uma cara de dó, se trancar em casa e deixar de viver. A questão é que entre a precaução, a inteligência para administrar os parcos recursos, condição natural em tempos bicudos; e o terrorismo existe um monte de gente que parece se deliciar com o receio coletivo.

Está difícil, é claro. Muito difícil. Mas essa dificuldade é tão real quanto é agravada e propagada como uma onda. Sinto-me feliz com a possibilidade de viver em um Brasil melhor depois de expurgada essa meleca toda que nossos homens (e mulheres) públicos aprontaram.

Vou continuar trabalhando com empenho, correndo atrás do meu com honestidade e dizendo não a quem tenta me prejudicar; seja governo, oposição ou um colega mal intencionado. Só não vou mergulhar a cara no pessimismo, ou fingir ser mais infeliz do que sou.

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