Viciados em drogas invadem praças, parques e cemitério

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Um sintoma típico do consumo exacerbado de drogas é o desenrolar de alguns assaltos. Para conseguir comprar uma pedra de crack, o viciado invade qualquer tipo de comércio

MARCOS VIEIRA

Na terça-feira (25), em operação no Pirineus, Santa Maria e Residencial Araguaia, o Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc), da Polícia Civil, prendeu dois homens e uma mulher – 19, 25 e 30 anos de idade – de posse de 20 quilos de maconha e 3 quilos de cocaína, entre pasta base e a droga no estado refinado.

Há dez anos, essa quantidade de entorpecente poderia surpreender as autoridades de Anápolis, mas hoje representa uma pequena parte daquilo que está em circulação pela cidade. Em uma década, o tráfico de drogas passou a ser controlado por quadrilhas organizadas, que matam rivais na disputa por território, desafiando a polícia e amedrontando a população.

Mas o tráfico só cresceu porque há demanda. É a lógica do mercado: quanto mais procura, mais prosperidade para o vendedor. E nos últimos dois anos, o anapolino vem se deparando com uma nova faceta desse problema social e de segurança pública que consome milhões de reais por ano do poder público, mas que apresenta poucas melhorias: o consumo de drogas em público.

Adultos e jovens estão ocupando os espaços públicos para fumar maconha e crack. A qualquer horário do dia, homens e mulheres viciados afastam o cidadão de praças e parques construídos para o convívio social, prática de esporte e válvula de escape do dia a dia estressante de uma cidade que cresce e incorpora problemas típicos de metrópoles.

A Praça 31 de Julho era ponto de moradores de rua consumidores de droga, que aproveitavam os semáforos dos cruzamentos da Avenida Brasil com a Goiás e a Barão do Rio Branco para pedir dinheiro durante o dia e, à noite, ficavam na praça, consumindo droga. Quando o espaço foi fechado por tapumes, para a construção do novo prédio da Câmara Municipal, esse grupo migrou para outras regiões.

 

Corredor

Paralela à Rua Barão do Rio Branco, ainda na região da Câmara Municipal, a Rua Lucimar de Melo se transforma em um corredor dos consumidores de crack no período noturno. Eles seguem pela via até a sua continuação, a Rua Manoel Demóstenes, que mais à frente passa a se chamar Avenida Mato Grosso: daí chegam à Praça Abadia Daher, um dos principais espaços para o uso de droga na região.

Não é raro a polícia prender gente consumindo droga na Abadia Daher. Nas madrugadas, usuários também vão para a Praça Dom Emanuel, uma das principais do Bairro Jundiaí. Há pouco tempo, durante o dia, um grupo tentava arrancar dinheiro de clientes do comércio local, fingindo que vigiam carros estacionados.

Um dos símbolos mais conhecidos da cidade, o Parque Ipiranga, em área nobre de Anápolis, também virou local de consumo de entorpecentes. Nesse caso o uso de maconha, basicamente, é feito por jovens de classe média, que não se intimidam com o vaivém de centenas de pessoas que fazem caminhada no início da noite no parque.

O Parque da Liberdade, no final da Avenida Getulino Artiaga, obra recente da administração atual, deu fim a uma área de degradação ambiental e se tornou um espaço de lazer para a população da região. Infelizmente, também virou ponto de consumo de drogas.

Construído no trevo sul de Anápolis, o Parque da Cidade também tem sido utilizado por viciados. O uso de drogas, que tem afastado as famílias com crianças, vem acompanhado de atos de vandalismo, causando mais dano a um espaço que deveria ser para a coletividade.

 

Cemitérios

Em Anápolis, até os cemitérios públicos estão sendo ocupados por dependentes químicos, que intimidam aqueles que tentam visitar túmulos de parentes – em muitos casos, essas pessoas ainda são roubadas. A depredação, assim como nos parques, também acontece com frequência. Um dos principais alvos é o Cemitério São Miguel, que fica em região mais centralizada da cidade.

Câmeras de segurança do Gabinete de Gestão Integrada do Município (GGIM) flagraram nessa última semana o tráfico de drogas na Praça Deputado Abílio Wolney. Entre os skatistas e outros jovens que frequentam o local, a venda de drogas acontecia em plena luz do dia.

Praças e parques possuem vigias, que possuem somente a função de zelar pelo patrimônio público. O policiamento ostensivo é feito pela Polícia Militar e por grupos especiais da Polícia Civil, que no caso da repressão às drogas, o Genarc.

A lei brasileira frouxa é pouco eficaz no caso dos usuários e pequenos traficantes. A polícia até prende os chamados aviões, que vendem a droga no varejo, mas sabe que o alvo precisa ser o grande traficante, ainda sim em operações bem fundamentadas que descartem o relaxamento de prisões.

Um sintoma típico do consumo exacerbado de drogas na cidade é o desenrolar de alguns assaltos. Para conseguir comprar uma pedra de crack, o viciado lança mão de qualquer coisa – uma chave de fenda, uma pequena faca, simulacros – e roubam em pequenos comércios, como farmácias e armazéns. Cada ação dessa, às vezes, não chega a render nem R$ 100, mas já ameniza a fissura do criminoso pela droga.

Parte desses usuários, quando não são mortos por dívidas contraídas e não pagas na boca de fumo, vai parar no presídio ou, no caso de menores, no centro de internação. Poucos vão para centros de recuperação. Uma quantidade menor ainda consegue se livrar do vício. Nesse universo, o crescimento mesmo é de desesperança e impotência diante de um quadro social cada vez mais alarmante.

Drogas Praça do Ancião 001

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