Cerca de 140 crimes por mês são praticados por mulheres

A condenada por tráfico quase sempre estava vendendo drogas depois da prisão do marido, ou seja, tinha assumido a boca de fumo para manter seu sustento, dos filhos, e do companheiro

LUIZ EDUARDO ROSA

As mulheres entraram definitivamente no mundo do crime em Anápolis. Há poucos anos, a prisão delas causava estranheza, inclusive, para a polícia. Hoje não mais. O Núcleo de Estatística e Análise Criminal (Neac) da Polícia Civil de Anápolis aponta 1427 autuações de mulheres entre janeiro e outubro deste ano. A média é de 142 casos por mês, quase cinco registros por dia. Apesar do número elevado, a situação foi um pouco pior em outros anos. Em 2013 foram 1,8 mil prisões de mulheres em Anápolis. Já no ano passado, foram 1580 registros.

O delegado geral Álvaro Cássio diz que a maioria dos casos é de baixo potencial ofensivo. “Os crimes cometidos por mulheres em Anápolis são em sua maioria calúnias e ameaças”. Segundo ele, situações mais graves perfazem 5% do total de ocorrências.

Os crimes que chegam a um maior potencial ofensivo são oriundos da participação no tráfico de drogas, que geram condenações em regime fechado. Na população carcerária feminina em Anápolis, há dois casos de presas condenadas pelo homicídio dos próprios filhos.

Entre os crimes de maior potencial ofensivo, há um índice de reincidência muito próxima aos crimes cometidos por homens, segundo o delegado Álvaro Cássio. Ele aponta que 95% dos crimes de autoria feminina são de menor potencial ofensivo, porém nestes tipos de delitos a reincidência é praticamente nula e que as penas sentenciadas pelas varas criminais geralmente são alternativas ou em regime aberto.

A condenada por tráfico geralmente estava vendendo drogas após a prisão do marido, ou seja, tinha assumido a boca de fumo. Essa informação é da diretora municipal de Políticas Públicas para Mulheres, Erondina de Morais.

Nos casos em que o companheiro fica foragido devido ameaça de outros bandidos, ou porque há mandado de prisão contra ele, a companheira passa a tomar conta da atividade ilícita para o sustento do casal. Erondina, que é delegada aposentada, aponta que a baixa autoestima faz com que muitas vezes a mulher não consiga romper com a vida criminosa do companheiro, mesmo ela não tendo vontade de fazer parte desse mundo. A baixa autoestima se acentua devido à pouca escolaridade e a dependência financeira da mulher.

Há 28 mulheres cumprindo pena em regime fechado no Centro de Inserção Social Monsenhor Luiz Ilc. A ala feminina da cadeia tem 33 vagas. Ela foi construída em 2013 a partir de esforços do Conselho da Comunidade na Execução Penal (CCEP), contando com celas, local de convivência, biblioteca e berçário para amamentação de crianças. “As mulheres que cumprem suas penas no presídio são jovens e sua situação econômica é de baixo poder aquisitivo”, aponta o presidente do CCEP, Gilmar Alves.

Submissão

A diretoria municipal de Políticas Públicas para as Mulheres atende as presas na unidade prisional nos campos jurídico, social e psicológico. Entre estas assistências, as mais buscadas são as de cunho jurídico, tendo em vista a dificuldade em se conseguir um advogado, recorrendo muitas vezes à promotoria municipal para que consigam melhores condições para cumprir a pena.

Na parte psicológica são realizadas palestras no sentido de colaborar com a autoestima delas, para que não continuem sendo cúmplices dos seus companheiros e que consigam mudar de vida ao sair do presídio.

“As palestras e o atendimento clínico na área psicológica têm por finalidade amparar a continuidade nos estudos e a preparação profissional, para que consigam superar a dependência afetiva e financeira”, explica a diretora Erondina de Morais.

A partir das ações de inteligência e das operações de prisão, o delegado Álvaro Cássio levanta um fato recorrente de que as criminosas geralmente ocupam papéis subservientes na prática criminosa. “Raramente elas ocupam um lugar de comando de uma quadrilha ou que tenham autonomia na comercialização dos entorpecentes”, explica o delegado geral.

O papel das mulheres na sociedade local e principalmente em meio a população de baixo poder aquisitivo é da maternidade e a ligação ao sustento dos filhos, situação ainda mais grave quando elas tem um baixo nível de instrução. Isso faz com que, na medida em que aumentem as prisões de criminosos e quadrilhas no tráfico de drogas, faz com que elas mantenham a prática, porém mais desguarnecidas pelo grupo criminoso ou pelo companheiro traficante, facilitando a ação policial.

Caso a média de 142 ocorrências envolvendo mulheres se conserve até o final do ano, a redução de crimes cometidos por mulheres pode ser de 6% em Anápolis. Essa redução demonstra que os homens estão em maior quantidade e em posições de comando e autonomia na criminalidade. “Com o aumento de ações da força policial, faz com que cada vez mais os crimes cometidos por mulheres diminuam devido sua posição vulnerável nestas circunstâncias”, explica o delegado Álvaro.

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