JE Especial Bairros: os caminhos da Alexandrina

José Juca Vargas 11,08,16 (6)

Morador relata os esforços somados para tirar o bairro do isolamento e garantir melhorias para a região

LUIZ EDUARDO ROSA

Na década de 1970, o Jardim Alexandrina era tomado por ruas de terra, de difícil acesso. Entre as lideranças do local, o agricultor José Martins Vargas, mais conhecido como Juca Vargas, hoje com 70 anos, trabalhou para abrir os caminhos para a região. Seja desempenhando cargos no poder público, militando em partidos ou reivindicando como cidadão, Juca não deixou de participar da política na Alexandrina.

O cotidiano dos moradores do Jardim Alexandrina para trabalhar e ter acesso ao Centro era possível somente passando por cima de uma tubulação para abastecimento de água. As ruas eram de terra e havia poucas casas. As erosões estavam em diferentes partes do bairro, nos quais inclusive Juca fez algumas pontes para que fosse possível trafegar próximo à sua casa. Essas são as descrições que ele dá do setor quando chegou por lá, em 1977.

“Era um bairro isolado, a única coisa que tinha de estrutura pública era um duto da Saneago que ia para o Centro e que gerava ao seu redor um grande lamaçal; por outro lado, o Parque da Matinha era um reduto para o tráfico de drogas”, explica Juca. Os possíveis acessos para entrar e sair do bairro, caso preferisse não passar por cima do duto, era uma trilha que terminava na Avenida Universitária. O outro acesso possível era feito pela Casa da Criança, em bairro próximo, porém também um caminho a demandar um tempo maior do que passar por cima dos dutos.

Com um percurso político, principalmente ao chegar a Goiás, Juca tinha contato com mandatários políticos a partir de reuniões e encontros do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Passou a frequentar comícios e audiências públicas na qual se aproximou de Henrique Santillo, na época governador, e do então prefeito Anapolino de Faria. “Ao poder ter voz no palanque, me coloquei em serviço espontâneo à cidade para que fossem realizadas essas melhorias, pedi como condição que fossem atendidas as demandas urgentes do Jardim Alexandrina”, conta Juca.

Fora a possibilidade de saída do bairro por cima das manilhas, outro caminho possível para Juca deveria ser aberto, de maneira a ligar o bairro ao centro da cidade. Mesmo contando com o apoio do prefeito, foi advertido pelo mesmo que enfrentaria dificuldades em levar adiante o projeto, tendo em vista a necessidade de drenar brejos e lamaçais e também derrubar árvores. O corpo de engenheiros da Secretaria de Obras e o ecologista Amador Abdala tiveram resistência ao projeto.

Em convites para visita à Alexandrina, Juca tentou sensibilizar Amador quanto à necessidade da região e que poderia ser reduzida a quantidade de árvores cortadas, caso fosse drenado o brejo nas imediações do córrego João Cesário. Segundo Vargas, o prefeito Anapolino de Faria tinha dado aval, porém teve que mobilizar os moradores do setor para abrir as picadas em meio a mata que havia na região, por meio de mutirão. Com a picada aberta e o brejo drenado, o Prefeito foi ao local e ao constatar a dimensão do que foi feito pelos moradores, confiou as máquinas do Município para que continuassem as obras para a sequência de vias que ligassem a Avenida Albertina de Pina com a Avenida Senador Ramos Caiado.

Político
“Se sou profundo conhecedor de um fato e não o assumo, sou omisso, covarde para mim mesmo e para com a sociedade”, cita Juca uma frase de autor desconhecido. Juca afirma que esta frase durante muito tempo da sua vida o levou a trabalhar em projetos de cunho coletivo, principalmente para o bairro onde reside há quatro décadas. Uma das referências que Juca aponta como um dos melhores políticos que ele conheceu, de postura inigualável aos outros, foi o presidente Juscelino Kubitschek. Na sua adolescência, na cidade mineira de Carmo do Paranaíba, teve a oportunidade de realizar um vôo de helicóptero com o presidente em pessoa.

Quando mudou para Santa Terezinha de Goiás, em 1964, engajou-se ao MDB e tempos depois disputou uma eleição à Prefeito no Município, perdendo por três votos. Estreitou contatos com Henrique Santillo que era do MDB e que foi uma das referências para que em 1977 mudasse para Anápolis. O primeiro local onde residiu foi necessariamente no Jardim Alexandrina, onde manteve seu ofício pela agricultura plantando hortaliças, cultivos como o de banana e criação de animais. Inicialmente foi chamado a trabalhar em funções municipais, porém não conseguiu adaptar.

Após a proximidade com o prefeito Anapolino de Faria, reanimou para desempenhar funções no gabinete do Município, atuando no setor de obras públicas. O último cargo público exerceu na gestão do prefeito Ernani de Paula. Juca passou pelas siglas partidárias como PMN, PDS, PFL e PDT, pela última sigla disputou eleição a vereador, não foi eleito, porém alcançou cerca de 600 votos no ano de 1992. Até a atualidade recebe visitas de políticos e mandatários para opinar sobre as demandas do bairro. “Acho que essa fibra de fazer as melhorias de forma obstinada, sempre respeitando a democracia, é o que falta aos mandatários atualmente”, aponta Juca.

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