Delegacia de Trânsito, recém-criada, vai combater com rigor embriaguez ao volante
A Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito de Anápolis foi implantada pela Polícia Civil na cidade há duas semanas, para combater crimes relacionados ao Código de Trânsito e tipificados no Código Penal. A atuação priorizará os crimes no trânsito que oferecem risco à pessoa e promete tornar mais severas as punições às práticas ilegais ao volante que estão banalizadas, pela alta reincidência. A estrutura do antigo 6º DP ganha uma nova delegacia especializada entre as duas existentes no local. A expectativa inicial de trabalho é um impacto sob os principais pontos de incidência da embriaguez ao volante, principalmente no período noturno.
“A cidade já apresenta um quadro que carecia de uma delegacia como essa pelo volume de investigações que se acumulam nos distritos deste tipo, ainda mais aqueles que envolvem o risco à vida no trânsito”, aponta o titular da delegacia especializada, Manoel Vanderic Filho (foto). O acúmulo, o trabalho exigido nas investigações e a delonga dos inquéritos nos distritos são os principais aspectos apontados por Vanderic como justificantes para uma unidade especializada.
“Neste ano tivemos mais de 45 homicídios culposos [sem intenção] no trânsito na cidade, na maior parte deles, ao menos um dos envolvidos estava embriagado ao volante”, aponta Vanderic. Entre janeiro e outubro do ano passado, o número de homicídios culposos no trânsito foi de 37, segundo dados estatísticos do Portal da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado de Goiás (SSPAP/GO). Neste universo de atuação da nova delegacia, Vanderic aponta cerca de 600 lesões corporais no trânsito e 200 prisões por embriaguez no volante, todas neste ano.
As delegacias especializadas em atendimento ao Idoso e em Atendimento aos Deficientes Físicos ficam no prédio do antigo 6º Distrito Policial, que passou para o local do 7º DP, no setor Parque Brasília. As duas especializadas estão sob a titularidade do delegado Manoel Vanderic. O delegado regional, Fábio Vilela, apontou em reportagem no mês passado do JE, que lá receberia mais uma especializada, que é a de Defesa do Consumidor. A unidade recém-criada, especializada em crimes no trânsito, aglutinou às duas especializadas no antigo 6º DP. “Teremos menos pessoal, porém o que conseguimos foram equipamentos e bafômetros, além de banco de horas para os agentes intensificarem o trabalho no período noturno”, explica Vanderic.
Polêmica
O banco de horas viabilizará a atuação dos agentes da delegacia de forma diferente aos procedimentos padrões realizados para coibir crimes de trânsito, como a blitz. “Implementaremos o modelo estadunidense de coibição dos crimes, principalmente a embriaguez ao volante, que é a abordagem aos condutores nitidamente embriagados, que saírem de bares e tomarem a condução do veículo”, afirma Vanderic, que aponta uma das promessas da delegacia, que se tornaram polêmicas na opinião pública local, principalmente entre políticos e empresários. Vanderic enfoca que possivelmente as festas de maior volume de público terão as abordagens dos policiais.
“Políticos e empresários já estão revoltados com a forma de atuação, que impactaria economicamente a cidade”, descreve Vanderic sobre o rumo das críticas. O delegado avalia que há uma comoção pública muito maior por roubos e furtos de comércio, porém da mesma forma não há para a direção em embriaguez, que para ele está em uma escala muito maior de risco à pessoa. “Temos que entender que as consequências da embriaguez ao volante são bem mais do que contra ao patrimônio, são contra a vida”, aponta Vanderic.
Penalização
Os principais crimes a serem atacados pela nova delegacia são artigos do Código de Trânsito que são crimes, perante o Código Penal. Outra parte que não será alvo da delegacia será das infrações administrativas, como por exemplo o desrespeito às vagas reservadas a deficientes físicos e idosos. Além da embriaguez ao volante, do homicídio culposo no trânsito e das lesões corporais, Vanderic levanta a atenção para outros comportamentos que não são encarados como crimes pela população.
Entre os comportamentos ignorados como criminosos, o delegado destaca a fuga do local de colisão sem vítima, para se livrar de uma responsabilidade civil, que é um crime previsto nos códigos. Outro crime é a direção perigosa, como ziguezague e arrancadas em alta velocidade, que poderão ser denunciadas pela população. “Com o número reduzido de agentes, contamos com a ajuda da população filmando por celulares os atos criminosos e as placas para denunciarem na delegacia”, orienta Vanderic.
Segundo Vanderic, a banalização dos crimes de trânsito se dá pela morosidade nos inquéritos policiais, que não alcançam as penalidades a rigor, e os valores das fianças, que na prática estão sendo abatidas a valores menores que um salário mínimo. “Tive casos pelo 6º DP no qual uma pessoa foi presa três vezes somente esse ano, por embriaguez ao volante”, explica Vanderic. A morosidade surge no sentido dos procedimentos que no geral, dificilmente contam com vítimas, as partes se evadem e procedimentos que exigem até fechamento de estradas e ruas, como a reconstituição da cena do crime.