Com 184 assassinatos, 2016 é ano mais violento de Anápolis

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FERNANDA MORAIS

Anápolis já vive o ano mais violento da sua história. Até o dia 15 de dezembro, de acordo com estatísticas da Polícia Civil, foram registrados 183 homicídios na cidade. Somente em outubro deste ano, foram 24 crimes do tipo. Até então, o ano mais crítico em relação a assassinatos foi de 2013, com 180 registros. Os números mostram ainda que em 2014 foram 148 casos e em 2015, 134 homicídios. O delegado do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Renato Rodrigues, disse que a escalada de violência não é uma prerrogativa de Anápolis, porém ele garantiu que a Polícia Civil está estudando novas estratégias de trabalho para tentar diminuir essas ocorrências em 2017. Para isso serão empregados esforços na elucidação dos crimes. Para o delegado, manter os assassinos presos seria a melhor maneira de evitar que uma mesma pessoa cometa vários crimes. O titular do GIH disse ainda que pelo menos 79 inquéritos de homicídios deste ano foram concluídos e enviados, com autoria definida, para o Judiciário, o que representa 42% dos casos. Renato Rodrigues falou com o JE nessa última semana.

Ainda não chegamos ao final do ano, mas a cidade já alcançou a marca de 183 homicídios. É um ano crítico em relação à violência?
É um número crítico, considerado negativo porque o que gostaríamos é que fosse registrada queda nos homicídios. Como aconteceu de 2013 para 2014 e de 2014 para 2015. Em 2013 foram 180; em 2014 tivemos 148; em 2015 ficamos com 134. Mas infelizmente os números de hoje mostram que superamos o patamar de 2013. Ainda estamos no dia 15 de dezembro, e já somamos 183 mortes violentas. Isso repercute negativamente na sociedade e no trabalho policial. Mas agora vamos tentar trabalhar para mudar esses índices. Nossos esforços no GIH serão para reduzir os homicídios.

Homicídio é um crime difícil de prevenir. O que a Polícia Civil pode fazer para diminuir esses índices?
Realmente muito pouco se pode fazer para a prevenção. O nosso pensamento de trabalho é aumentar a taxa de elucidação. Isso já ajudaria a evitar as mortes sequenciais praticadas por um mesmo indivíduo ou grupo. A única forma que vemos de conseguir evitar esses homicídios é com a elucidação.

O senhor assumiu o GIH em setembro desse ano, mas é possível traçar um perfil das vítimas desses crimes?
Sim, tranquilamente. Já vimos que a grande maioria, cerca de 90%, tem envolvimento com o crime. Independentemente disso, claro, temos a obrigação de trabalhar com a elucidação. Mas a maior parte realmente está envolvida com crime, seja tráfico, roubo de cargas ou de carros. Percebemos também que algumas mortes são procedentes de vingança. Por exemplo, acontece uma primeira morte por tráfico, em seguida vem outro homicídio por vingança a essa morte e por aí vai. Mas infelizmente, a realidade que temos hoje é que as vítimas têm ligação com o crime, em sua maioria. Temos outros casos, como aconteceu em setembro com aquela criança de dois anos que morreu ao lado do verdadeiro alvo dos criminosos. Então um homicídio, ou outro, repercute em pessoas inocentes, mas digo com tranquilidade, as vítimas estão no mundo do crime.

Como está o trabalho de elucidação desses homicídios?
Hoje nós temos 79 inquéritos com autoria definida, concluídos e enviados ao Judiciário. Cerca de 42% dos homicídios deste ano estão elucidados. Mas nosso objetivo, como já disse, é aumentar esse percentual de elucidação para o ano que vem. Para isso estamos traçando algumas estratégias, organizando mudanças internas que dependem de alguns fatores externos para cumprir esse objetivo. Temos recebido o apoio do nosso delegado geral, o Dr. Álvaro [Cássio] e do nosso regional, o Dr. Fábio [Vilela] para melhorar nossas estratégias de trabalho. Entendemos que a elucidação pode sim ter impacto positivo na redução de homicídios. Ainda não podemos dizer em números esse impacto, mas sabemos que mantendo os autores presos por mais tempo, evitaremos que eles cometam novos crimes. Não digo os homicídios ocasionais, mas sim os homicídios sequenciais, que são os cometidos por grupos de pessoas, inclusive.

O senhor disse que esse aumento nos índices de mortes violentas não é uma característica só de Anápolis.
Observamos que, de forma geral, cidades de porte parecido com Anápolis, onde conversei com colegas de trabalho, teve essa escalada de homicídios. Essas informações, esse mapeamento, será feito após o encerramento do ano e divulgado de forma oficial. Mas já temos essa informação que as cidades com número parecido de habitantes viveu esse problema neste ano. Tentamos traçar causas, buscar justificativas desse aumento. É uma situação complexa. Do ponto de vista policial vemos que temos dois problemas hoje que precisariam ser resolvidos. O primeiro é a questão da execução penal. A lei é muito boa, traz as diretrizes de como deve ser o cumprimento das penas, de como devem ser os presídios e cadeias, mas a dificuldade financeira dos Estados em aplicar a lei da forma adequada é muito grande. Os Estados brasileiros não estão com verbas suficientes para priorizar o sistema prisional. Isso sim tem afetado, de alguma forma, a questão do aumento desse crime. A pessoa que fica presa, por algum tempo, não tem a ressocialização que precisa. Às vezes sai da cadeia com dívidas e tem que pagar essa conta com quem conheceu no presídio. E aí gira outro problema. Em segundo lugar, tem a questão da necessidade de rever a legislação. É a minha opinião. Temos uma legislação que prevê penas razoáveis para os crimes, como homicídios, por exemplo. A pena pode ser de até 30 anos. Mas a lei traz situações que a pessoa fica presa um ano, um ano e meio e é colocada em liberdade. Então temos essa dificuldade hoje. Tem mais coisas, claro, mas em minha opinião, esses dois fatores prejudicam a questão da segurança, principalmente no que tange aos homicídios.

Esse prende e solta acaba gerando o que podemos chamar de banalização da vida?
Essas brigas ocasionais, ou questões ocasionais, existem sim. Às vezes por consumo de álcool ou drogas acontecem sim homicídios. No mundo do crime, a gente vê que antigamente também se matava, mas hoje, por R$ 50 em dívida de drogas o traficante mata, ou manda matar. Qualquer situação, no mundo do crime, se resolve por morte. Seja um fato mínimo, ou uma situação gigantesca. Não é como a Justiça normal que tem a sua aplicação de pena de acordo com a ocorrência. Ouvi essa semana um suspeito de alguns homicídios em Jaraguá. Ele está preso por roubo, mas é suspeito de cometer alguns homicídios aqui em Anápolis. A gente viu que ele cometeu pelo menos dois homicídios por motivos passionais. Ele não matou porque era um problema de território por tráfico, por exemplo. Ele matou porque é normal no mundo do crime. Não existem critérios nesse mundo. Qualquer coisa se resolve com morte. O homicida habitual não tem a menor preocupação em não cometer o crime. Ele comete independentemente das consequências. Para um homicida, a solução é mantê-lo preso, evitando que ele cometa mais mortes.

Em relação à estrutura policial, existem condições para fazer o seu trabalho?
Não é o ideal. Temos necessidades de efetivo maior. A perícia também, que é importante na elucidação de homicídios, às vezes demora certo tempo para ficar pronta. Mas temos visto um esforço por parte das autoridades para melhorar. O governo do Estado tem dado atenção para isso, temos notado esforços por parte da Secretaria de Segurança Pública para dar condições. Temos visto sim que na questão de pessoal tem faltado efetivo, mas o treinamento do efetivo disponível tem recebido apoio, temos investimentos em viaturas e em tecnologia, por exemplo.

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